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Cooperar e competir: como os relacionamentos definirão o seu sucesso



Existe uma contradição básica entre cooperação e competição. Na maior parte das vezes no ambiente de trabalho estamos competindo por uma oportunidade exatamente com as pessoas com as quais temos que cooperar. As empresas valorizam o trabalho em equipe mas direta ou indiretamente induzem a competição entre os profissionais. Encarar esta contradição, sobreviver a ela gerando resultados, manter bons relacionamentos e ainda ter sucesso é a responsabilidade do bom profissional.


É fácil? Não, não é.


A @Vanessa Neves comentou em meu post recente no Linkedin sobre este assunto que “quando temos boas intenções é possível cooperar e trabalhar para que todos cresçam juntos”. Existem muitos exemplos em que isso acontece mesmo, como uma cooperativa, que reúne competidores que unem esforços para conquistar um mercado maior. Passam a cooperar em algo maior do que a competir em um mercado menor. Uma cooperativa é produtiva quando compartilha recursos que fortalecem seus cooperados que se aliam para ganhar em conjunto. Todos buscam o bem comum, compartilhado na proporção de seus esforços ou recursos alocados. Existem boas intenções e um objetivo comum a ser alcançado.


Embora exista um bem comum a ser perseguido numa empresa, normalmente materializado pela geração de lucro, as oportunidades de ascensão de carreira são escassas e não existe a situação onde todos possam ser promovidos a um mesmo tempo. As oportunidades não serão equilibradas entre todos e nem sempre seremos recompensados na proporção de nossos esforços. Somos o tempo todo cooperadores pelo bem comum e competidores pelas oportunidades individuais.


Nada de cenários cor de rosa ou de céus azuis aqui. Manter um bom nível de relacionamento com colegas e pares é uma das maiores dificuldades profissionais e um grande foco de problemas. Pessoas são confusas, obtusas, complicadas e suas relações potencializam todas estas características, alimentadas ainda por algum estímulo competitivo em um ambiente cheio de regras e exigências. É de enlouquecer qualquer um.

É claro que existem empresas incríveis, com equipes fantásticas, integradas e alinhadas. Nestes casos, os méritos da liderança são enormes, pois não é a situação normal. E se você está numa equipe operacional, sua relação com seus pares tende a ser melhor, mais simples e amigável do que as relações entre líderes e seus pares. Quando mais alto, mais difícil o jogo. Saiba disso desde cedo, pois ser líder traz dificuldades próprias. E estas dificuldades crescem com as responsabilidades.


Relações pessoais no ambiente profissional são complexas. Você irá conviver por horas a fio, dia após dia, com pessoas que podem ser muito diferentes de você, com princípios, valores e costumes distintos. É claro que existirão pessoais com as quais você terá afinidade e isso ajuda a equilibrar as coisas. O fato de ter amigos no trabalho ajuda, mas saber lidar com todos os demais é obrigatório. Reconheça esta necessidade, reflita sobre ela e aja de forma a ser sociável e colaborador, mesmo com aquele chato da outra área.


Não estou aqui defendendo a hipocrisia nem comportamentos mascarados. É plenamente possível agir de forma íntegra e social, educada e respeitosa, mesmo com quem não gostamos. O segredo é agir com respeito e basear o relacionamento nos aspectos profissionais e nas questões relevantes ao sucesso da empresa.


É importante levar em consideração que não existe equiparação entre relações profissionais com as demais relações sociais. Não pense que é tranquilo conviver com pessoas no trabalho, bastando ser educado e habilidoso socialmente. E nunca, NUNCA, confunda as relações profissionais com as relações pessoais. Você pode ter amizades no trabalho, claro. Relações que extrapolam o ambiente. Pode ser amigo(a) de um(a) colega de trabalho ou até ter um relacionamento amoroso, mas estas relações não se sobrepõem às obrigações das relações profissionais no ambiente de trabalho. Amizades, inimizades, relacionamentos amorosos e suas eventuais crises não podem afetar o dia a dia do trabalho (alguns leitores devem estar pensando agora que “falar é fácil”).


Nas relações pessoais são os nossos laços e afinidades que contam. Sejam familiares, amigos ou inimigos, meros conhecidos. Nas relações profissionais o que conta é o ambiente profissional e suas responsabilidades, todo o resto é menos relevante. Você não é obrigado a ter laços ou afinidades e deverá ter e manter excelentes relações mesmo com divergências, princípios e valores contraditórios ou até com eventuais animosidades pessoais, que algumas vezes acontecem. No ambiente profissional nada disso interessa e o profissional que se deixar levar por estas questões perderá espaço e relevância, não importando de que lado esteja uma eventual culpa ou responsabilidade.

Falei que não apresentaria cenários coloridos mas agora proponho uma visão idealizada de como devam ser os relacionamentos? Verdade. Falo sobre o que deveria ser, mas que nunca ou quase nunca é. As pessoas cometem erros continuamente em suas relações. São levadas por sentimentos como a ira e a inveja e dão ouvidos a fofocas que alimentam suas inseguranças pessoais. Talvez seja uma característica nossa, como povo latino, deixarmos nossas emoções interferirem tanto no trabalho. Reconheçamos que nos falta inteligência emocional. Já presenciei estrangeiros em discussões profissionais sérias sem a menor questão pessoal envolvida. Mas todos sabemos de inúmeros exemplos contrários em nossas experiências brasileiras.


Em artigos passados sobre as Dimensões de Expectativas Profissionais (links ao final) falei sobre sermos contratados por nossas hard skills, ou competências técnicas, e sermos demitidos por nossas soft skills, habilidades comportamentais e sociais (ou a falta delas). Estes comportamentos inadequados se mostram na maior parte das vezes nas relações interpessoais profissionais. Cada vez mais o trabalho se caracteriza por esforços coletivos, trabalhos em equipe e o motivo óbvio é que isso traz resultados e produtividade. Uma equipe realmente produtiva é muito mais do que a soma individual de seus participantes. Ainda existem os pequenos gênios que fazem grandes contribuições nas empresas trabalhando isolados em seus computadores, mas estas situações são raras e especificas. A grande maioria de nós vai produzir mais em esforços conjugados, compartilhados e complementares.



Trabalho em equipe exige disposição em colaborar, capacidade de contribuir efetivamente com o resultado e uma grande e hábil capacidade de comunicação. Competências críticas, essenciais, capazes de evitar problemas e promover progressos.


Precisamos reconhecer que as pessoas possuem seus próprios interesses, assumidos abertamente ou não, mas nem por isso ilegítimos. Existem interesses escusos e desonestos claro e estes precisam ser evitados a todo custo. Mas existem pessoas com interesses legítimos, cada qual a seu modo, que podem se confrontar. A disputa por uma única vaga de liderança entre dois profissionais seniores de uma equipe, por exemplo. Pessoas podem ter boas intenções e mesmo assim estas serem divergentes ou competirem entre si.


Quando interesses se alinham temos apoiadores e quando se chocam ganhamos opositores. Faz parte do jogo, mesmo que todos busquem o bem comum na organização. As pessoas pensam diferente afinal. Algumas empresas e lideranças acham que conflitos podem ser produtivos e permitem que eles aflorem abertamente. Existe até um termo para isso, “gestão por conflitos”, quando a liderança permite que seus liderados conflitem aberta e continuamente. Isso pode ocorrer quando a liderança acredita que as disputas possam gerar melhores resultados e produtividade, mas também ocorre quando líderes inseguros querem impedir a ascensão de novos profissionais, revelando um mesquinho jogo de poder. Seja qual for o motivo, os profissionais envolvidos nos conflitos contínuos sofrem e se desgastam. É preciso ser muito inteligente e ponderado para perceber esta situação e fugir das armadilhas. Eu nem sempre fui.


Outros líderes buscam minimizar estes conflitos, mas de uma forma ou outra eles irão acontecer. A dinâmica das relações corporativas, principalmente nas esferas mais altas, vai ficando cada vez mais complexa, na medida que os interesses se acentuam. Se torna mais difícil identificar apoiadores e opositores e estes papeis ainda mudam ao longo do tempo, de acordo com o sabor das circunstâncias. Capacidade de negociação, conciliação de interesses, saber lidar com divergências e angariar apoios passam a ser competências essenciais.



Não pensem que estou falando das altas esferas de Brasília. Toda e qualquer organização composta por seres humanos viverá estas contradições, desafios e jogos de poder e influência. Pode ser uma multinacional, uma pequena indústria, uma escola ou um hospital.


Você pode achar que exagero ou então pode identificar partes do meu texto com as suas experiências próprias. Meu objetivo com os artigos desta série é propor reflexões que possam levar as pessoas a se posicionar em suas carreiras de forma planejada, premeditada e consistente. Proponho que reflitam sobre questões que impactam a vida profissional e através destas reflexões possam analisar as suas próprias realidades. Pode ser que alguns pontos não façam sentido para você ou que pelo menos não façam sentido até agora. Mas pensar sobre eles poderá ajudar quando eles eventualmente acontecerem e interferirem em sua trajetória.


Como disse antes, não defendo a hipocrisia. Reconheço que em alguns momentos de interação não podemos ser totalmente sinceros e frequentemente precisaremos engolir sapos. A convivência social é complicada e no ambiente profissional ainda mais. Mas é possível permanecer como uma pessoa integra, correta e ter sucesso.


O fundamental é buscar se destacar individualmente por mérito próprio e não por demérito de outros. Você pode realizar atividades em equipe, com resultados comuns, colaborando e cooperando e ainda assim se destacar individualmente fazendo com que todos os demais evoluam. Líderes bem treinados possuem boa percepção e sabem reconhecer talentos especiais, mesmo entre vários profissionais similares com as mesmas atribuições.



O leitor @Victor Silva comentou em meu post Linkedin que “a cooperação é a maior alavanca, e, infelizmente, também a maior pedra no desenvolvimento de sinergia e trabalho em equipe.” Profissionais egoístas muitas vezes não cooperam simplesmente para não contribuir para o sucesso do colega. O que deveria ser uma equipe sinérgica se reduz a um bando de pessoas trabalhando em um mesmo espaço. É muito difícil a situação de um líder que encontra indisposições pessoais em seus liderados e nem sempre é possível contorná-las ou superá-las. Algumas das demissões que tive que fazer foram com pessoas intransigentes, incapazes de colaborar e reconhecer que a colaboração ao todo é primordial.


Conhecer quem são seus pares, como pensam e trabalham é fundamental. Não imagine que todos pensam como você ou tem as mesmas prioridades. Desenvolva a empatia, tente pensar como seus pares e colegas, tente perceber o que eles valorizam e planejam para seus próprios futuros. Colabore sempre, coopere, mesmo em atividades ou situações que não sejam de sua responsabilidade. Ter uma postura colaborativa lhe trará uma posição de vantagem ao negociar esforços comuns e apoios e isso é absolutamente legítimo.


Conhecer seus pares também lhe fará perceber seus defeitos e fraquezas. Se tiver qualquer oportunidade ajude. Seja franco, dê feedbacks, ofereça apoio em momentos de dificuldade, seja prestativo. Você aos poucos criará uma posição de respeito, de legitimidade, de integridade e quando for promovido todos perceberão a justiça acontecendo. Todos ganham quando isso acontece, mas certamente você será o maior beneficiado, pois terá menos opositores no futuro, será reconhecido como uma boa pessoa e ainda terá a sua consciência tranquila.



Por fim, lembre-se que existem algumas leis universais inevitáveis, uma delas é que você colhe aquilo que planta. Espero que meus escritos possam servir como um arado em terra dura para que você possa semear boas sementes em sua vida profissional.




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