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Descobertas: é preciso um novo olhar para inovar

Atualizado: 19 de dez. de 2019



Dezembro é a época em que manifestamos nossos melhores votos às pessoas. Desejamos sucesso, paz, felicidade, amor e todo um pacote de coisas boas ao longo do próximo ano.


Um momento que traz esperanças, por mais difícil que tenha sido o ano que finda, renovando o ânimo para o que virá.


Desejo todas essas coisas boas aos meus leitores e amigos, claro. Mas quero algo mais: desejo a todos que seja um ano de descobertas.


Na Wikipedia a primeira linha que descreve “Descoberta” diz que é o ato de se detectar algo novo ou algo velho que não tenha sido reconhecido como significativo.


Sob a ótica científica a descoberta é baseada na observação e na criação de novas formas de raciocínio para explicar o conhecimento obtido. Raciocínio que alia pensamento abstrato com as experiências do observador.


Na História as descobertas estão associadas a feitos históricos relacionados a grandes conquistas.


O que pode unir todas estas visões sobre “descoberta”? O que há de comum entre a explicação do dicionário, a visão científica e o entendimento histórico?



Observação e ousadia: ingredientes fundamentais para a descoberta



A observação é um aspecto exigido. Não é apenas ver, mas olhar e buscar compreender. Olhar o novo e interpretá-lo, olhar o velho e reinterpretá-lo. Observar e pensar a respeito.


Usar um raciocínio crítico, criativo, abstrato. Um olhar curioso, com foco em aprender sobre o que se observa e assim extrair o que há de melhor ali. Ou explorar o observado e entender seu significado.


Algo novo sempre me é tentador. Quero saber, conhecer, aprender a respeito. Aceito o que é novo com facilidade, com a armadilha do pré-julgamento desarmada por uma consciência aberta e livre. Recebo o novo, vou observar e pensar a respeito, ver o que serve ou não para mim. E só então terei meu próprio julgamento: gosto x não gosto, quero x não quero, ou gosto e quero em parte. Só então essa descoberta será efetiva.


Isso se aplica a qualquer coisa. Um produto, um serviço, um conhecimento novo. Até para um relacionamento social que pode ou não virar uma amizade.


Mas existe a descoberta de um novo significado ou importância no que é “velho”. Esse é um exercício muito mais difícil. Poucas pessoas conseguem ter esse olhar curioso sobre o que já está aí.

Talvez porque tenhamos nos acostumado a ver esse “velho” como parte da rotina. Vemos sem olhar. Passamos por essa “coisa” sem pensarmos a respeito e isso vale para qualquer coisa ou situação: entramos e saímos do metrô sem pensarmos em tudo o que é necessário para a operação daquele trem; seguimos comportamentos sociais sem pensar a respeito; realizamos procedimentos em nosso trabalho simplesmente porque alguém os definiu dessa forma; assistimos a uma aula tradicional sobre um conteúdo há muito formatado e pouco nos interessamos por isso.


Se o novo nos atrai com facilidade, o “velho” ou o usual pouco desperta a nossa curiosidade.


Vejam isso: durante muito tempo ouvi dizer que Machado de Assis era o maior escritor brasileiro. Tantas vezes me deparei com essas observações que as aceitei com naturalidade e segui minha vida por anos aceitando esse fato sem a mínima curiosidade de ler suas obras. Parece bobagem, mas se Machado era um autor tão consagrado e suas palavras estavam ali eternizadas em suas obras de fácil acesso eu não me dispunha a conhecê-las. Faltava curiosidade.


Mas um dia algo me levou a ler uma de suas obras, sobre a qual nunca havia ouvido falar. O título me atraiu e li “Filosofia de um par de botas”. Estava desperta a curiosidade e que descoberta foi essa! Uma leitura prazerosa com conhecimentos profundos tratados de forma simples. Machado é um autor vivo, suas obras falam conosco por suas frases vivas e límpidas.


Já li muitos clássicos e em muitos deles “sinto o autor morto” e por mais que me encante a obra percebo um texto datado, importante mas distante. Machado de Assis para mim está vivo, ali no Rio de Janeiro, tomando um café ou escrevendo em uma escrivaninha qualquer. É um cara que eu queria encontrar num boteco para tomar uma cerveja e ouvir suas histórias.


Machado de Assis esteve sempre ali acessível e demorei a descobri-lo.


Nas nossas profissões existem muitos paradigmas estabelecidos e pouco questionados. É claro que cirurgiões e pilotos de avião precisam seguir procedimentos padronizados, obrigatórios e inquestionáveis no dia a dia. Mas muitas profissões e atividades ficam presas a normas e procedimentos estabelecidos sobre condições que talvez não sejam mais consistentes, válidas ou necessárias. Procedimentos seguidos sem questionamentos porque “sempre foi feito assim” ou por serem normas a serem respeitadas.




Todas as vezes em que obtive avanços significativos em minha carreira foi questionando normas, procedimentos ou “verdades” estabelecidas como definitivas.


Não fui um gênio criador de um produto inovador. Mas fui um profissional que inovou continuamente, buscando um novo olhar, uma nova observação, um novo entendimento, que me levasse a uma descoberta de uma forma melhor de fazer, de produzir, de criar, de servir ou de gerir.


Em parte meu jeito rebelde explica a rejeição por paradigmas estabelecidos sem justificativas coerentes ou atuais. Mas é o meu olhar diferente sobre o “velho” já estabelecido que realmente permite a descoberta.


Todas as empresas sonham com saltos de produtividade, de vendas, de lucros. Mas na verdade, em 99,9% das vezes esses saltos não existem. O verdadeiro ganho se constrói com a soma contínua e consistente de pequenos avanços e pequenos ganhos. Um pouco por vez, um dia por vez.

Em todas as empresas e profissões, sem exceção, existem várias oportunidades de melhorias e ganhos. Mas é preciso observar aquilo que já está estabelecido com um olhar de explorador. É possível descobrir muita coisa nova a respeito de algo que parece “velho” e usual.


Pense nas coisas ao seu redor. Observe. O que está ali há tanto tempo que pode merecer um outro olhar? O que pode e deve realmente ser entendido sobre algo que sempre esteve à sua disposição mas nunca despertou a sua curiosidade?


Essas perguntas poderão permitir a descoberta de oportunidades na sua profissão. Ou descobrir um autor tão incrível como Machado de Assis.



Ousando descobrir



Outro aspecto fundamental é a ousadia. Ousar observar o novo, ou o velho de novo, esteja onde estiver.


Descobrir um novo continente, observar o fundo dos oceanos, decifrar uma reação química. A ousadia exige confiança. Confiança em si mesmo, naquilo que sabemos, na expectativa daquilo que ainda podemos aprender.


Também precisamos confiar no caminho e nos recursos que temos para essa jornada. Confiar na caravela para nela embarcarmos, nos instrumentos científicos, na nossa capacidade de observar, interpretar e aprender.


Penso na coragem dos marinheiros das caravelas de Colombo. Muitos podem ter sido os motivos que os levaram a isso. Sonhos de riqueza, necessidade de trabalho, disposição para aventuras, busca de uma nova realidade. Qualquer que seja o motivo foi preciso coragem e ousadia para prosseguir.


Desafiar o entendimento comum e os paradigmas existentes exige a mesma coragem. É necessário ousar olhar diferente, sair do lugar comum e navegar mares pouco explorados.


Quem consegue esse novo olhar é diferenciado. Vive uma aventura onde os demais apenas sobrevivem. Tem a coragem de pensar de forma nova sobre o que é comum. É um descobridor.


São estas as pessoas inovadoras. Elas não precisam inventar coisas inéditas, mas podem trazer novas formas a velhos conteúdos, novos entendimentos a velhos saberes, novas aplicações e maneiras de fazer.


Descobertas podem trazer riquezas, mas normalmente não é a busca da riqueza que provoca as descobertas. Quem se dispõe a observar com ousadia não busca o dinheiro ou o prêmio, seu prazer maior é o próprio esforço da descoberta. Inovação não se compra e se existirem riquezas ao final são mera consequência, não objetivo principal.


Os marinheiros de Colombo talvez buscassem a riqueza em primeiro lugar, mas não parece ser este o motivo do comandante. Da mesma forma que Marie Curie não buscava riqueza, nem Darwin, nem Neil Armstrong. A ousadia de descobrir algo novo os movia, mais do que qualquer outra coisa.




O próximo ano pode ser muitas coisas e ocorrer de muitas formas. Muitas delas nos afetarão sem que tenhamos qualquer controle, pois a vida é assim. Nós temos poder sobre algumas coisas e outras não.


Mas temos total poder de decisão para adotarmos um olhar observador e ousado sobre as coisas do dia a dia, sobre a nossa atividade profissional, sobre nossos relacionamentos e também sobre os livros esquecidos em nossa estante.


Faça uma descoberta por mês, por semana, por dia. Exercite seu olhar sob outros pontos de vista, ouse pensar de outra forma, busque novos entendimentos. Ouse!


Esse é o meu melhor voto a todos para o próximo ano: que seja um ano de descobertas!





William Andreotti Jr.

Escritor, consultor, mentor e produtor de conteúdos sobre Administração, Negócios, Recursos Humanos e Carreiras. Defensor de uma visão humanizada para o mundo dos negócios e carreiras profissionais baseadas em princípios e valores.



Este texto foi desenvolvido a partir do apoio da Populis em seus esforços para desenvolver e disseminar conhecimentos relevantes da área de Recursos Humanos. A Populis é uma empresa que oferece soluções inteligentes para Folha de Pagamento.

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