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A necessária despedida dos sonhos mortos


Nesta semana me despeço de alguns sonhos importantes. Alguns antigos, outros recentes, mas todos poderosos em seu encanto e alcance.


A vida é assim, muitos sonhos são alcançados e outros não. Alguns começam a se concretizar, já se manifestam em partes da realidade mas acabam por não serem plenamente alcançados.


Os que não alcançamos ou os que não se concluem precisam ser abandonados em algum momento, pois já perderam sua capacidade de fazer fluir o sangue nas veias e trazer consolo para corações cansados.


E outros não virão se estes não forem embora de vez.


Sou daqueles que de vez em quando joga na loteria e fica uns dias sem conferir o resultado, só para poder ter aqueles devaneios de fuga com a riqueza do prêmio, sabe? Ver o resultado é perder essa boba esperança que traz um certo consolo no travesseiro antes do sono vir.

Deixar o fim chegar aos sonhos mortos é como liberar o perdão, traz a liberdade a quem o faz. Essa associação entre sonhos mortos e perdão é boa, porque muitas vezes só nos libertamos do cadáver sonhado perdoando o culpado por tal assassinato. E isso não é nada fácil.


Alguns sonhos morrem com aspectos e circunstâncias tão cruéis que nos surpreendem. Nada no encanto do sonho enquanto sonhado permitia perceber o risco de tamanha dor acrescida da falta de sensibilidade do mundo contra você. E como o mundo pode ser insensível!


Mas assim é a vida que vivemos.


Compreender, aceitar e prosseguir é parte da receita da maturidade. Sem lamentos, pois estes acabam por se transformar em correntes amarradas a nossos tornozelos, arrastados lastros que nos impedirão aos novos sonhos.


Já me revoltei muito com situações assim. Acabei furioso, reagindo a um sonho assassinado impondo artificialmente um novo sonho (falso) concretizado à força só para mostrar de que eu era capaz de realizar algo.


Também já me rebelei abandonando os sonhos, deixando pra lá. Focando na vida prática e nas conquistas materiais, deixando a capacidade de sonhar sonhos dignos para os jovens, loucos e poetas.


Mas agora... agora a vida prática me deu um pé na bunda (vários, na verdade) e há muito já me reconheço louco e poeta. Se não jovem mais no corpo, minha mente segue mais jovem do que já foi. E assim serei ainda mais, Benjamin Button em minha própria vida.


O que para muitos parece retrocesso para mim é um inevitável e impetuoso progresso em direção ao que sempre fui, perdido que estive de mim mesmo por tantos anos.


Errei bastante e errarei ainda muito mais, mas cada erro antes cometido foi em busca de uma afirmação daquilo que não era e os erros futuros serão na busca da plenitude do que sou.


Que me desculpem as pessoas afetadas pelo meu passado e presente, pelas minhas atenções e desatenções, pelas minhas paixões e loucuras, friezas e destemperanças, pela insanidade aparente de minhas atuais decisões de mudança.


A vida é uma. Não me importa o que vem depois, me importa o hoje. A morte é o fim, ou de tudo ou desta etapa, mas é o fim. E ela é tão certa quanto o sol amanhã. De agora até o momento em que ela se apresente a mim serei digno da oportunidade incrível de estar vivo.


Amores e desamores, enganos e acertos, frustrações e gratificações fazem parte de uma mesma vida, impermanente, louca e deliciosa a cada segundo em que nos dispomos a desfrutá-la.


Jesus poeta nos falou sobre a beleza dos lírios do campo, que não trabalham nem tecem e se revestem de incomparável esplendor. Ele nos alerta para não nos preocuparmos com o amanhã, vivendo o hoje, pois a cada dia basta o seu próprio mal.


Já achei Jesus inconsequente. Como assim não se preocupar com o amanhã? Reconheço que demorei anos e muitas perdas para entender e nem ouso tentar explicar. Hoje sei, por mim mesmo, que é assim.


Mas se cada dia tem mesmo seu próprio mal, cada dia vivido também traz uma bênção com as misericórdias renovadas a cada momento pelo Pai. Cada dia tem mesmo o seu próprio mal, mas também oferece a oportunidade para que eu faça o meu próprio bem. A mim mesmo e à outras pessoas, espalhando as sementes de amor que Jesus nos ofereceu.


Os sonhos se vão, é necessário que assim seja. As folhas da árvore caem para que a árvore se renove, reforçando a sua essência viva. Não conheço os sentimentos da árvore a cada folha perdida mas sei a grandeza das dores dos meus sonhos desfeitos. Que essas dores possam ser o fertilizante de novos sonhos, novos amores e novas descobertas.


Não existe a dor sem seu oposto.

E não existe vida eternamente condenada às trevas.


Deus,

estou pronto para que o novo ciclo de luz e amor em minha vida comece agora.

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